27.1.08
A 1ª Esquecida Invasão Francesa
Decorre ainda, até 09 de Fevereiro, na Biblioteca Nacional, em Lisboa, uma exposição subordinada ao tema dos 200 anos das Invasões Francesas.
Para lá me dirigi, há duas semanas, para uma visita rápida, no período do almoço, a ver o que me reservava a exposição, decerto não comemorativa, de um momento deveras funesto da nossa História Pátria.
Foram imensas as depredações praticadas pelo supostos arautos das ideias libertadoras da Revolução de 1789, que pretenderia estender a toda a Europa e ao resto do Mundo, se possível, os nobres princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Em Portugal, como se sabe, começaram os exércitos de Napoleão, tidos por invencíveis, a sofrer derrotas inesperadas, quebrando-se deste modo o mito da sua pretensa invencibilidade, em face de uma força luso-britânica, rapidamente forjada, com o que foi possível mobilizar das gentes lusas, coordenadas e tornadas coesas pela organização britânica, corroboradas, a bem ou a mal, pelos enérgicos regimentos ingleses, igualmente, reconheçamo-lo, largamente depredadores dos nossos escassos bens.
Contingências que costumam sobrevir a quem tem de pedir a outrem que defenda aquilo que é seu.
Destes recontros, a exposição nos dá bastante informação. Mas lá procurei e não lobriguei nada que respeitasse à primeira violação de fronteiras deste período, para alguns, infelizmente raros, historiadores portugueses designada como a 1ª invasão francesa, embora comandada pelo ministro espanhol Manuel Godoy, então ufano amante da rainha, em Madrid.
Refiro-me, evidentemente, à invasão de 1801, pela fronteira do Alentejo, perpetrada pelas tropas franco-espanholas, de que resultou a perda de Olivença, única Praça das várias, por nós mal defendidas e então caídas, que os Espanhóis perfidamente se recusaram a restituir-nos.
Apesar de estas tropas invasoras serem maioritariamente espanholas, o conluio estabelecido com a França era completo. De resto, a França, à cautela, manteve de prevenção um excército, junto à fronteira, pronto a intervir, no caso de as acções de Godoy não se saírem, do premeditado esbulho, claramente vitoriosas.
Estes comezinhos, mas significativos factos da nossa História, quase diria, adrede escondidos da esmagadora maioria do Povo Português, continuam a ser negligenciados dos nossos historiadores contemporâneos, deles bastamente conhecedores, porém, não os assinalando, nem os enquadrando no seu capítulo próprio, o das Invasões Francesas, de que eles são absolutamente parte integrante. Daí que nada disto conste da referida exposição.
A única coisa relacionada com estes factos que lá descortinei foi o livro exposto do Prof. António Pedro Vicente, intitulado, et pour cause, Guerra Peninsular, 1801-1814, recentemente publicado, sob a chancela da Academia Portuguesa da História e no qual é feita referência correcta a estes acontecimentos.
No entanto, quem não tenha lido o oportuno livro, nem seja regularmente informado nestes assuntos, não se aperceberá destas lacunas inconcebíveis da nossa historiografia, salva apenas por raros exemplos de excepção, como o do académico referido.
Note-se que na publicação que a Biblioteca elaborou para assinalar o evento, nem uma única vez aparece a palavra Olivença, nem obviamente é feita qualquer referência à disputa que o Estado Português mantém com a Espanha, desde essa data. Há, pois, aqui também, eloquentes silêncios ensurdecedores.
A explicação para esta sonegação de factos relevantes da nossa História mereceria alguma prosa especializada, que obviamente não me competirá, nem, ainda que o pretendesse, reuniria a competência bastante para dessa tarefa me desempenhar com proficiência. Só como cidadão, interessado por temas históricos da sua Pátria, deles falo aqui.
Mas não posso deixar de sublinhar este estranho silêncio sobre o importante pormenor da verdadeira 1ª invasão franco-espanhola, ocorrida em 1801, como ela deve ser classificada, e não assim a de Junot, de Novembro de 1807.
Estará este facto relacionado com a demanda de Olivença, roubada e mantida cativa por Espanha desde então, apesar de o Tratado de Viena de 1815, após a queda do célebre general corso, ter determinado a sua retrocessão a Portugal, à semelhança do que havia determinado para todos os territórios que, na Europa, sob a férula de Napoleão, haviam mudado de soberania ?
Para os inocentes que acham que estes episódios devem ser esquecidos e enterrados, sugiro-lhes que guardem esse douto conselho para os vizinhos espanhóis, a propósito da sua reivindicação de Gibraltar, perdida para a Inglaterra, em 1704, quase cem anos antes, portanto, da nossa perda de Olivença.
Acresce que a Espanha reconheceu a soberania britânica de Gibraltar, pelo tratado de Utrecht de 1713, e não dispõe de nenhuma outra decisão de qualquer instância internacional, que possa invocar, favorável à sua retomada de soberania sobre o território, no qual já se realizaram, pelo menos, dois referendos modernos, com quase 100% de votos expressos pelos gibraltinos a favor da sua integração na cidadania britânica.
Nada disto, como se sabe, tem impedido os espanhóis, e bem, acrescente-se, de reclamarem o regresso do território à sua soberania.
Por que razão os portugueses, sempre entusiasmados em copiar comportamentos alheios, não seguem, em relação a Olivença, o exemplo espanhol, com respeito a Gibraltar ?
Apesar de já ter abordado, por diversas vezes neste fórum, o tema de Olivença, a ele voltarei com certeza, com maior ou menor brevidade.
Trata-se de um caso de absoluta dignidade nacional, que está para lá de todos os modernismos, incluindo os mais intelectualmente vanguardistas.
AV_Lisboa, 27 de Janeiro de 2008
Comments:
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Interessante chamada de atenção para a questão de Olivença!
Espero poder aqui voltar dentro de dias, com uma nova referência sobre o assunto.
Espero poder aqui voltar dentro de dias, com uma nova referência sobre o assunto.
Aqui fica a ligação para um artigo meu no Diário Económico de 31/01/2008, sobre Olivença, em que também faço uma referência à "1ª esquecida invasão francesa", uma ideia que o Viriato defende e que dele apreendi (o seu a seu dono) nas nossas profícuas conversas de café : http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1084311.html
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